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A Matemática, como expressão da mente humana, reflete a vontade ativa, a razão contemplativa, e o desejo da perfeição estética. Seus elementos básicos são a lógica e a intuição, a análise e a construção, a generalidade e a individualidade.

Richard Courant & Herbert Robbins

O que é Matemática?

A galáxia espiral UGC 10214, apelidada de Tadpole (Girino).

A Matemática, como expressão da mente humana, reflete a vontade ativa, a razão contemplativa, e o desejo da perfeição estética. Seus elementos básicos são a lógica e a intuição, a análise e a construção, a generalidade e a individualidade. Embora diferentes tradições possam enfatizar diferentes aspectos, é somente a influência recíproca destas forças antitéticas e a luta por sua síntese que constituem a vida, a utilidade, e o supremo valor da Ciência Matemática.
Sem dúvida alguma, todo o desenvolvimento da Matemática tem suas raízes psicológicas em exigências mais ou menos práticas. No entanto, uma vez desencadeado pela pressão de aplicações necessárias, inevitavelmente ganha impulso por si e transcende os confins da utilidade imediata. Esta tendência da ciência aplicada para a teórica aparece na História Antiga e também em muitas contribuições à Matemática moderna por engenheiros e físicos.
A Matemática registrada inicia-se no Oriente, onde, por volta de 2000 a.C., os babilônios colecionam uma grande quantidade de material que hoje classificaríamos como Álgebra Elementar. Contudo, como ciência no sentido moderno, a Matemática emergiu somente mais tarde, em solo grego, nos séculos V e VI a.C. O contato cada vez maior entre o Oriente e os gregos, começando na época do Império Persa e alcançando o auge no período que se seguiu às expedições de Alexandre, tornaram os gregos familiarizados com as realizações da Matemática e da Astronomia babilônicas. A Matemática foi logo submetida à discussão filosófica que florescia nas cidades-estados gregas. Dessa forma, os pensadores tomaram consciência das grandes dificuldades inerentes aos conceitos matemáticos de continuidade, movimento, e infinito, e ao problema de medir quantidades arbitrárias com unidades dadas. Em um esforço admirável o desafio foi enfrentado, e o resultado, a teoria de Eudóxio do contínuo geométrico, é uma realização que só teve paralelo mais de dois mil anos depois com a moderna teoria dos números irracionais.
A tendência postulacional dedutiva na Matemática originou-se na época de Eudóxio e foi cristalizada nos Elementos de Euclides.
(...)
Não cabe aqui uma análise filosófica ou psicológica detalhada da Matemática. Apenas alguns pontos devem ser enfatizados. Parece haver um grande perigo na ênfase exagerada que prevalece sobre o caráter postulacional-dedutivo da Matemática. É verdade que o elemento de invenção construtiva, de direcionar e motivar a intuição, é propenso a se esquivar de uma simples formulação filosófica; porém ela permanece o núcleo de qualquer realização matemática, mesmo nos campos mais abstratos. Se a forma dedutiva cristalizada é a meta, a intuição e a construção são pelo menos as forças propulsoras. Uma grave ameaça à própria vida da Ciência está implícita na asserção de que a Matemática é nada mais do que um sistema de conclusões extraídas de definições e postulados que devem ser consistentes, mas que sob outros aspectos podem ser criados pela livre vontade dos matemáticos. Se esta descrição fosse exata, a Matemática não poderia atrair qualquer pessoa inteligente. Seria um jogo com definições, regras e silogismos, sem motivo ou meta. A noção de que o intelecto pode, por seu capricho, criar sistemas postulacionais com significado é uma meia-verdade. Somente sob a disciplina da responsabilidade para com o todo orgânico, somente guiado pela necessidade intrínseca, pode a mente livre alcançar resultados de valor científico.
(...)
Tanto para eruditos quanto para leigos não é a Filosofia, mas a experiência ativa na própria Matemática que unicamente pode responder à questão: o que é Matemática?

Excerto do livro "O que é Matemática?", de Richard Courant & Herbert Robbins.

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